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sábado, 15 de julho de 2017

PEDRO CALHAU


Fui de Lisboa a Évora para visitar o PEDRO CALHAU, mas escrevo este texto três meses depois da visita. Estava um dia de Primavera, o que significa um calor infernal que eu não esperava. Depois de uma Sopa de Cação, encontrei-me com o artista: íamos de carro até ao seu atelier, que fica em Foros do Freixo, a 23km de Évora. 


O Pedro inaugurou uma exposição chamada 12 Montanhas há dois anos, na Galeria Módulo, em Lisboa, que fica próxima de onde vivo. Foi nessa exposição que conheci o seu trabalho e foi essa exposição que me despertou curiosidade em relação ao seu atelier.


O Pedro não vive onde trabalha. A sua casa fica a alguns quilómetros do atelier, o que lhe dá uma certa liberdade de movimento e permite-lhe separar a vida. É um caminho que gosta de fazer, apesar da solidão. Foi à volta deste tema que a nossa curta conversa se focou: o tipo de solidão que se sente no Alentejo não é a solidão a que normalmente as pessoas estão habituadas quando estão sozinhas. É um sentimento mais profundo, quase mais solitário, muito para dentro e, por vezes, impossível de suportar.
Isso é fácil de sentir assim que se dá uns passos em Évora. As próprias pessoas movem-se mais lentamente e essa lentidão está também presente na paisagem, ampla, longa, horizontal e amarela.


Os trabalhos do Pedro são também horizontais e para longe. Durante o caminho de carro entre Évora e o seu espaço de trabalho, tornaram-se óbvias as semelhanças entre a paisagem envolvente e aquilo que o Pedro pinta. As cenas que representa têm um envolvimento estranho, quase extra terrestre para quem as vê desfasadas do local onde foram pensadas e pintadas, mas assim que percorremos o caminho diário do artista, percebemos que só podiam ter sido concebidas num sítio como aquele.


Licenciou-se em Pintura pela Universidade de Évora e estudou no Ar.Co. Quando lhe perguntei se não preferia ter começado por estudar em Lisboa, diz-me que não. Que precisou do tempo em Évora, de maturar os seus pensamentos e trabalho. Quando foi viver para Lisboa já não era como uma pessoa que entra nas Belas-Artes aos dezoito anos, que passa os primeiros dois ou três a focar-se em todas as mudanças que ocorrem simultaneamente. Essa maturidade trouxe-lhe distância e capacidade para se avaliar mais objectivamente.


É importante para si escrever sobre o que faz e o seu pensamento é esquemático e lógico. Acompanha as exposições com livros que ele próprio edita, imprime e distribui como deseja. Estes livros, com imagens que serviram de ponto de partida, com investigação aprofundada, muitas vezes científica e matemática, são aquilo que explica o seu trabalho. O Pedro não é de longas conversas: é conciso, rápido e racional. Quando fala sobre o seu trabalho, diz o mínimo possível e deixa-nos à vontade com as nossas próprias considerações.


O seu atelier é um anexo exterior de uma casa. Sem qualquer janela, só com uma porta pesada que se entreabre para deixar entrar a luz e não entrar calor. Há duas mesas, paredes brancas, em que uma delas é usada para pintar, e uma série de livros, tintas e objectos variados que vai usando conforme necessita. É um atelier vivido e é nítido que o Pedro passa muito tempo naquele espaço.


Apesar da explosão de coisas dentro do atelier, o Pedro é uma pessoa organizada: trabalha de manhã, à tarde resolve outro tipo de assuntos. Por vezes vai a Lisboa, a maior parte do tempo passa-o naquela zona. Encontrá-lo não é fácil: não se vai, por acaso, ter àquele sítio escondido, em que o ambiente é pesado e quente.


Os seus projectos são todos desenhados em cadernos, autênticos livros de artista, maravilhosos de folhear, com ideias que só por vezes são concretizadas. Se a ideia existe, o Pedro desenha-a, descreve-a, faz como pode, e por vezes pinta-a directamente. Muitas vezes acontece que, tendo desenhado, satisfez a vontade de concretizá-la e não lhe faz sentido repetir numa tela em que, para si, só o formato diferiria.


Quando lhe perguntei se achava que o ambiente em que pintava influenciava aquilo que fazia, respondeu-me que talvez, que provavelmente sim, mas que faz aquilo que tem que fazer, quase como se não pudesse renunciar a essa condição de vida. Diz que trabalha em Foros do Freixo porque não quer trabalhar noutro sítio. Aprecia aquela solidão; até os carros que representa não se movem.



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O Pedro Calhau tem facebook e instagram.

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