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quinta-feira, 5 de abril de 2018

BRUM ATELIER | BEATRIZ BRUM E JOÃO MIGUEL RAMOS



A BEATRIZ BRUM (Ponta Delgada, 1993) sabia que queria ir para Artes antes do secundário, mas como a sua escola não tinha a área disponível, recolheu assinaturas pelos colegas e conseguiu que abrisse o curso que queria. Viveu até aos dezanove anos em São Miguel e quando foi visitar universidades depois de um ano para pensar no que queria fazer, apaixonou-se pelas Caldas da Rainha. Descreve como um momento 'piroso-romântico': chegou às Caldas no final de um dia difícil, olhou para o pôr-do-sol e achou que era ali que pertencia. Licenciou-se em Artes Plásticas na ESAD.CR.


O JOÃO MIGUEL RAMOS (Ponta Delgada, 1994) viveu em Ponta Delgada até aos dezoito anos e tal como a Beatriz foi estudar para o Continente. Licenciou-se em Pintura no Porto, mas o curso desiludiu-o de certa forma porque contava com mais liberdade da parte de professores e colegas. Pensou que precisava de um tempo de pausa depois da licenciatura e regressou a São Miguel. 


Já se conheciam antes da universidade, mas foi quando regressaram a São Miguel e um ano depois de ganharem o prémio Jovens Criadores do festival Walk&Talk que se juntaram e montaram atelier na garagem da avó da Beatriz, na Lagoa. Esta era a antiga carpintaria do pai e do avô, onde se construíam carroças. O espaço está dividido em duas áreas muito luminosas e amplas. 


A área maior pertence à Beatriz e está repleta de pequenas imagens, fotografias, trabalhos terminados e latas de spray com cores fluorescentes. O seu antigo berço é um dos sofás e as cadeiras foram construídas pelo avô. A Beatriz fala muito e sempre com um brilho alegre nos olhos. Diz várias vezes que é muito mexida e que gosta de trabalhar rápido, de testar uma ideia nova a cada movimento e não tem muita paciência para esperar para que a tinta seque. É por isso que usa spray: o resultado fica logo à vista e se não gostar pode sempre deitar fora e começar outra vez, sem grande culpa por ter desperdiçado tempo. 


O seu principal problema é a falta de acesso aos materiais: se acaba uma cor, não tem onde comprar o spray que quer, mas recentemente abriu o AKI em Ponta Delgada e por isso já não precisa de ir tantas vezes ao Continente buscar material que era fácil de encontrar enquanto estudava, apesar de continuar a ser difícil. Mesmo assim não pondera sair de São Miguel tão cedo porque sente que está a começar alguma coisa que tem pernas para andar, além de trabalhar numa instituição ligada às artes. É por ter outro trabalho que se sente mais estimulada e ter o dia dividido entre dois trabalhos fá-la pensar mais e sentir-se mais activa.


O João considera-se romântico. A sua divisão do atelier, mais pequena, com cavaletes e paredes ocupadas por telas, é um local onde se sente o tempo a passar mais lentamente. Tímido e sorridente diz que gosta de passar todo o dia no atelier. Vai para lá de manhã e sai ao final do dia como um operário. Pode ficar muitas horas à volta do mesmo trabalho sem se aborrecer e o difícil é fazer com que a mente não viaje para outros sítios. É um exercício de concentração que lhe dá muito prazer. 


Gostaria de sair de São Miguel, mas este ano é para trabalhar ali, no silêncio, no meio do verde e do azul. Por vezes encontra-se com a Beatriz no atelier e são as conversas entre os dois que o fazem resolver questões que surgem acerca do seu próprio trabalho. Sente que os trabalhos se contaminam o mínimo possível porque vão em direcções diferentes e não há competição. 


A Beatriz considera o seu trabalho muito próximo da fotografia, trabalhando com transparências, sobreposições de cores e projecções. Mas não é nem pintura nem fotografia. O João trabalha sobre equilíbrio e gosta de estar no intervalo entre a escultura e a pintura. Este é o ponto que os une: não se consideram pintores, nem escultores, nem se limitam numa definição. Trabalham no espaço entre as disciplinas e é aí que se aprofundam e que exploram os seus trabalhos. 


Ambos falam com entusiasmo e orgulho por pertencerem a uma geração nova de artistas dos Açores. O arquipélago mudou nos últimos anos, com as viagens low coast e o crescimento de turistas. É possível ir a São Miguel pelo mesmo preço que se vai ao Porto, é possível trabalhar nos Açores e ter exposições a decorrer no Continente sem dificuldade. Até há uns seis anos não era assim e os Açores eram culturalmente mais pobres. As artes também foram impulsionadas por festivais como o Walk & Talk e o Tremor, apesar do João sentir que ainda não é suficiente. Diz-me que o Porto, mesmo tendo uma faculdade mais conservadora, tem uma vida diferente e que precisa disso para se sentir estimulado. 



A identidade micaelense é importante no discurso dos dois e é claro que se sentem em casa ali, nunca tendo assumido como lar os locais onde estudaram. São Miguel foi de onde vieram e sempre que precisarem de limpar a cabeça aquela será a sua casa. Sair da ilha é sinónimo de regressar um dia e isso é evidente quando a Beatriz conta que por vezes se abstinha de fazer trabalhos com maiores dimensões enquanto estudava nas Caldas porque não sabia como transportá-los 'de regresso' a casa.


O Atelier Brum está aberto ao público e a inauguração deu-se há uns meses. A Beatriz não deseja ficar parada e quer receber artistas no atelier que possam partilhar o espaço consigo. Quer que o espaço tenha vida e quer que o seu trabalho evolua também por contacto com outros artistas. Está neste momento a fazer mestrado em Artes Plásticas, mas terminou o mestrado em Gestão Cultural em Setembro. Fazia-lhe falta saber como gerir arte, que é o que não lhe ensinaram na faculdade. 
Ambos acham impressionante que não se aprenda a gerir uma carreira artística. Esse mestrado obrigou-a a distanciar-se do seu trabalho enquanto objecto emocional e a olhar para ele enquanto inserido num mercado. Foi duro, mas é preciso. 


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Para os interessados em visitar e ficar no BRUM ATELIER:
brumatelier@hotmail.com
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Beatriz Brum

João Miguel Ramos


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