Aba Dropdown

domingo, 14 de fevereiro de 2016

JORGE LEAL

___________________________

Já tinha passado pelos ateliers dos Coruchéus, mas nunca tinha entrado dentro de um. Este foi o dia em que entrei no do Jorge Leal (Lisboa, 1975), número 19, sempre disponível para receber quem queira entrar. 'Exceptuando em alturas de trabalho intenso. Aí, trabalho o dia todo e não quero ser interrompido'.

Numa conversa sobre a relação entre desenho e pintura e sobre o seu doutoramento, o ex arquitecto não deu margem para dúvidas: faz o que quer, o impulso é que conta e, se errar, corrige por cima. Sem medos. 

O atelier é maior do que esperava e o que salta à
vista é a qualidade da luz, constante
ao longo do dia.
(clicar para aumentar)


'Detesto desarrumação no atelier, o caos não é por fora', diz o Jorge. Começou a achar aborrecida a forma como hoje a maioria dos artistas pinta. 'Hoje projecta-se tudo. Projecta-se a imagem, o artista pinta por cima, desliga o projector e tem uma fotografia pintada, sem erros. Isso não me interessa.'

'Gosto daqueles desenhinhos que se fazem
nas paredes das casas de banho. Pilinhas, aquelas frases...'
Antes, nas telas com as caveiras, pintava mais tradicionalmente. Agora anda a experimentar desta forma. Transpõe os seus desenhos para telas e trabalha a mesma tela de seguida até ficar pronta. 'São seis, oito horas de trabalho seguidas por cada uma. E deixo os erros à mostra.' 



Começou a projectar os seus esboços e a pintar por cima deles. É uma forma de dar a volta, sem perder o projector, mas brincando com as proporções e com a capacidade de corrigir o original, porque é feito por si. A relação entre o desenho e a pintura é a sua tese de doutoramento, que vai no início.  


Como desenha muito, os cadernos são inúmeros.
Numa estante impecável, onde todos os cadernos têm o mesmo tamanho,
tira quatro ou cinco e dá-me liberdade
para os ver.

'Podes ver tudo, toda a gente pode ver tudo. Não tenho nada a esconder', diz o Jorge, que se desliga de uma forma notável daquilo que está a mostrar. 'São só esboços, tenho tantos'.
Saem dali desenhos de modelos, mas muito pouca coisa escrita. Algumas notas aqui e ali e uma abundância de esboços.




'O sexo é uma coisa como outra qualquer, não é?
Costumo dizer que o meu atelier não é para crianças
e não estou à espera que este tipo de trabalho seja
recebido pelas pessoas que gostam de outro género'.



'Houve uma altura em que andava
a pintar sapatos'. Uma vez, encontrou três sapatos distintos
e pintou-os. 

'Adoraria ter uma caveira humana'. Não a tem, mas tem uma colecção de ossos - uma cabeça de gato e outra de gaivota.



O erro é o caminho. Querer assumi-lo significa ser verdadeiramente humano; aperceber-se disso faz, não só com que o Jorge trabalhe sobre erros, mas também trabalhe o sexo e a morte, temas que confirmam a sua humanidade.

Todos os trabalhos que me foi mostrando passam por experiências que foram melhoradas, erros corrigidos à frente do observador e pessoas nuas, tal como são.


______________________

O Jorge pode ser contactado através do seu Facebook.
Os seus trabalhos podem ser vistos no seu site e o atelier está disponível para visitas. Basta agendar com o artista.

_______________________

Outros trabalhos do artista

Bárbara
2014, 60x55 cm, óleo sobre tela
Control
2015, 69x73 cm,  óleo sobre tela
Feet Delight #1
2014, 60x55 cm, oil on canvas / óleo sobre tela
Feet Delight #7
2014, 55x60 cm, óleo sobre tela
Reflexo
2013, 61x43 cm, óleo sobre tela



Sem comentários:

Enviar um comentário