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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

HUGO AMORIM



O HUGO AMORIM (Lisboa, 1975) é artista plástico e gravador. Encontrámo-nos no seu espaço na Rua da Bombarda, 12, nos Anjos, em Lisboa, onde conversámos durante duas horas sentados na sua mesa de trabalho.


O espaço onde o Hugo trabalha já foi a fábrica da Farinha 33. O lado direito é ocupado pelo seu projecto MEEL, Press, e a mezzanine pelo trabalho que o Hugo faz em nome próprio. O lado esquerdo, pela artista plástica Cristina Lamas apesar de agora estar em obras, e há uma sala extra à qual o Hugo pretende dar outra vida a partir do próximo ano. 


Quando se entra no seu estúdio e não se conhece o seu trabalho pessoal, é difícil perceber que trabalho é seu e que trabalho é feito por outros artistas. É que o Hugo, além de ser artista plástico, é também gravador e criador da MEEL, Press, Múltiplos E Edições Limitadas, que produz múltiplos  com outros artistas.


O Hugo está numa posição privilegiada. Os artistas chegam para trabalhar, muitas vezes em colaboração, já que o Hugo faz o acompanhamento técnico e muitas vezes ajuda o artista a encontrar soluções. Durante algum tempo - que podem ser dias ou meses - convivem diariamente e passam a conhecer-se de outra forma. Foi assim que criou uma relação com algumas pessoas com quem hoje mantém contacto apesar do trabalho conjunto ter terminado. 


A luz que entra pela sala dentro ilumina a mesa de trabalho e a prensa sem nos ofuscar. Todos os materiais estão ali mesmo à mão, prontos a ser utilizados. Mas o estúdio de gravura não foi sempre neste local; há cinco anos era numa salinha na sua casa em Carcavelos com menos de metade da dimensão desta. 


Não havia nada que fizesse antever esta vida de gravador. Quando terminou o 11º ano, andou algum tempo perdido, sem saber o que fazer. Uns anos mais tarde entrou em Pintura no Ar.Co e interessou-se por gravura mesmo contra todas as probabilidades, já que considerava que esta técnica era aborrecida e antiquada. Quando percebeu que poderia ser interessante, ficou com um pequeno estúdio na escola onde os materiais estavam guardados. Com o tempo chegou a ser professor, mas entretanto nasceu-lhe a filha e o Hugo arranjou emprego mais estável numa empresa de engenharia. 


Mesmo durante essa fase nunca deixou de ter o seu próprio atelier. Entretanto houve um despedimento em massa e o Hugo aproveitou o dinheiro da indemnização para comprar o material que precisava e montou a MEEL, Press.


O Hugo diz que por muito tempo que os artistas passem consigo, ele não se deixa contagiar pelos seus trabalhos ou ritmos de pensamento. Nessas horas a sua função é a de operário, mas o seu trabalho pessoal é absolutamente diferente daquilo que faz com quem o contacta. No entanto há vantagens pelo facto de ter formação artística porque sente que consegue entender a visão dos artistas com quem trabalha.


O Hugo não quer o seu trabalho plástico a conviver com os trabalhos da MEEL porque não o quer mostrar antes de estar terminado, por isso mantém-no arrumado longe do nosso olhar, na mezzanine. Conta que há algum tempo viu um documentário sobre os primeiros bombardeamentos a Londres com Zeppelins durante a Primeira Guerra Mundial. Os grandes projectores de luz que se usavam para localizar estas armas de destruição maciça criavam um cone de luz. O Hugo explorou esta ideia numa série de desenhos feitos a carvão em que ele representa a sombra de um cone de luz, onde o branco do papel sobressai. 


Se lhe pergunto directamente sobre algum trabalho, as suas respostas são evasivas e concentram-se mais nas técnicas que usa e nos projectos em que está a trabalhar. Na série que tem na parede do atelier, papéis pretos dobrados e vincados em sítios particulares como se fossem um origami desmanchado, há um movimento de desconstrução. A luz incide de tal forma que à primeira vista, em vez de se verem vincos, vêem-se diferentes tons de cinzento.


A voz do Hugo torna-se gradualmente mais silenciosa à medida que vai falando sobre o seu trabalho pessoal. Quando estudava Pintura, criticavam frequentemente a sua tendência para acumular muitas cores, muita tinta, e o trabalho tender a tornar-se confuso. A partir daí o seu movimento vem sendo contrário: vai desconstruindo, desmontando e retirando até ficar o essencial.


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