Aba Dropdown

sábado, 6 de fevereiro de 2016

ANA VELEZ \\ ATELIER CONTENCIOSO

_____________________

Se voltar ao Atelier Contencioso, tenho que me lembrar de levar umas cervejas. No quarto andar da LX Factory, quatro artistas conversam enquanto trabalham. Quem lá entra sente-se bem vindo e com vontade de ficar.

Ana Velez (Lisboa, 1982) é uma das artistas. Assim que entrei, recebi um cumprimento alegre e um 'desculpa, posso continuar a trabalhar?' retórico. Foi claro para mim que a Ana estava habituada a trabalhar com barulho e no meio de conversas paralelas, disponível para falar sem perder o foco.

A Ana (à direita) e a Maria Sassetti, uma das artistas com quem partilha o atelier,
conversam a sério sem se dispersarem.
Ao fundo, outros dois espaços de trabalho: da Xana Sousa e da Joana Gomes.

'Sou muito metódica. Não, não escrevas metódica, escreve racional', diz a Ana. E o seu atelier é assim: apesar do espaço ser rotativo - quando uma das artistas precisa de uma parede grande, outra está disposta a ceder - a sua zona é muito limpa, aparentemente sem nada para ver a não ser o trabalho que desenvolve. É racional.


O seu trabalho é tão minimalista como aqueles poucos metros quadrados onde trabalha.
Não se relaciona com o atelier todo, relaciona-se com o seu espaço,
minúsculo em relação ao resto.

'Gosto de mapas, gosto de ver cidades arranjadinhas. Por exemplo, Los Angeles em relação a Lisboa é tão direita' e desdobra um mapa de Los Angeles.



Este trabalho é sobre uma rede de transportes em Los Angeles que foi desactivada.
A Ana recupera-a num mapa meticulosamente medido,
cujos nomes das paragens estão recortados letra por letra, os quais passa
para a tela em folha de ouro. 


'Fazem-me confusão os espaços abandonados. Espaços que já foram muito importantes... As pessoas abandonam-nos porquê?', diz-me detendo-se num bocadinho de folha de outro que enrugou. É por isso que se demora em cada detalhe: presta-lhe atenção, dedica-lhe tempo e passa, vagarosamente, ao seguinte.


Aquilo que é minimalista, racional, cujo-pouco-lhe-chega-para-expressar-muito, começou quando fez erasmus em Itália. Desenhava muito, todos os dias, até que percebeu que precisava de muito pouco para os desenhos ficarem completos. E vem explorando isso desde então.


'Continuo a desenhar muito, é importante para mim. Pego no meu caderno e vou para a rua desenhar, faz-me perceber melhor o resto'. E, de repente, a conversa que tinha cirandado duas horas à volta de Los Angeles, do minimalismo do trabalho, de como chegaram à LX Factory, vira para os diários gráficos e para a atenção às medidas das coisas, que a Ana tenta reproduzir com a maior fidelidade. 



Chegadas a este ponto, não era preciso mais: o seu espaço é qualquer um desde que tenha consigo o caderno, a caneta e qualquer coisa que desenhar. A Ana não se abandona a si própria: apropria-se dos espaços que foram abandonados e é ela quem lhes dá o destino final, não se esquecendo das camadas que há por baixo, até quando o observador não pode aceder. Mesmo que esse destino seja uma mancha, um conjunto de rectas, um quadrado, uma rede de transportes desactivada.

Controlando absolutamente o seu trabalho, a Ana sabe o que tem em mãos. Por isso, leva-se a si e ao seu trabalho muito a sério.


                                                               _____________________

O site da Ana Velez está em construção.
Os seus trabalhos e informação mais completa sobre ela podem ser vistos no site da Miguel Justino Contemporary Art ou no Facebook da artista.
                                                               _____________________


A Percepção Requer Participação
Vista da Obra na Bloco103 [Lisboa]
Técnica Mista [Acrílico e Pó de Grafite] sobre Papel
113 x 300 cm
2012


Da Série Centro Social
Vista da obra na Bloco103 [Lisboa]
Técnica Mista [Acrílico e Pó de Grafite] sobre Papel
282,5 x 113 cm
2013

Sem comentários:

Enviar um comentário