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Já tinha passado pelos ateliers dos Coruchéus, mas nunca tinha entrado dentro de um. Este foi o dia em que entrei no do Jorge Leal (Lisboa, 1975), número 19, sempre disponível para receber quem queira entrar. 'Exceptuando em alturas de trabalho intenso. Aí, trabalho o dia todo e não quero ser interrompido'.
Numa conversa sobre a relação entre desenho e pintura e sobre o seu doutoramento, o ex arquitecto não deu margem para dúvidas: faz o que quer, o impulso é que conta e, se errar, corrige por cima. Sem medos.
O atelier é maior do que esperava e o que salta à vista é a qualidade da luz, constante ao longo do dia. (clicar para aumentar) |
'Gosto daqueles desenhinhos que se fazem nas paredes das casas de banho. Pilinhas, aquelas frases...' |
Antes, nas telas com as caveiras, pintava mais tradicionalmente. Agora anda a experimentar desta forma. Transpõe os seus desenhos para telas e trabalha a mesma tela de seguida até ficar pronta. 'São seis, oito horas de trabalho seguidas por cada uma. E deixo os erros à mostra.'
Começou a projectar os seus esboços e a pintar por cima deles. É uma forma de dar a volta, sem perder o projector, mas brincando com as proporções e com a capacidade de corrigir o original, porque é feito por si. A relação entre o desenho e a pintura é a sua tese de doutoramento, que vai no início.
Como desenha muito, os cadernos são inúmeros. Numa estante impecável, onde todos os cadernos têm o mesmo tamanho, tira quatro ou cinco e dá-me liberdade para os ver. |
'Podes ver tudo, toda a gente pode ver tudo. Não tenho nada a esconder', diz o Jorge, que se desliga de uma forma notável daquilo que está a mostrar. 'São só esboços, tenho tantos'.
Saem dali desenhos de modelos, mas muito pouca coisa escrita. Algumas notas aqui e ali e uma abundância de esboços.
'Houve uma altura em que andava a pintar sapatos'. Uma vez, encontrou três sapatos distintos e pintou-os. |
'Adoraria ter uma caveira humana'. Não a tem, mas tem uma colecção de ossos - uma cabeça de gato e outra de gaivota.
O erro é o caminho. Querer assumi-lo significa ser verdadeiramente humano; aperceber-se disso faz, não só com que o Jorge trabalhe sobre erros, mas também trabalhe o sexo e a morte, temas que confirmam a sua humanidade.
Todos os trabalhos que me foi mostrando passam por experiências que foram melhoradas, erros corrigidos à frente do observador e pessoas nuas, tal como são.
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O Jorge pode ser contactado através do seu Facebook.
Os seus trabalhos podem ser vistos no seu site e o atelier está disponível para visitas. Basta agendar com o artista.
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Outros trabalhos do artista
Bárbara 2014, 60x55 cm, óleo sobre tela |
Control 2015, 69x73 cm, óleo sobre tela |
Feet Delight #1 2014, 60x55 cm, oil on canvas / óleo sobre tela |
Feet Delight #7 2014, 55x60 cm, óleo sobre tela |
Reflexo 2013, 61x43 cm, óleo sobre tela |
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