A Inez Wijnhorst (Maassluis, Países Baixos, 1967) vive em Lisboa há mais de duas décadas: tirou pintura nas Belas Artes de Lisboa e neste momento vive num lindíssimo prédio na Baixa. É um prédio antigo, daqueles que começaram a ser destruídos para serem feitos hotéis. Viradas para a rua estão duas grandes janelas: as do seu atelier.
Entrar na casa da Inez é fantástico. Depois de se atravessar uma ourivesaria, sobem-se uns quantos andares em madeira e a Inez está à porta à nossa espera.
Vista panorâmica de parte do atelier com a Inez. (clicar para ampliar) |
Parte da 'garden party', que está por todo o lado no seu atelier. |
'Esta garden party, como gosto de lhe chamar, veio de uma necessidade. Ultimamente sou assoberbada pelas obras que estão a fazer aqui ao lado. A minha vizinha já teve que sair. Os pedreiros até me deram tampões para os ouvidos! A minha paz foi perturbada, por isso precisava de recriar um jardim, o jardim que não tenho'.
'Os dias de chuva são muito bons para pintar jardins parece que crescem mais depressa' |
'Às vezes pensamos que o que queríamos era viver... sei lá, num bosque. Até eu! Era o que eu gostava, uma casinha no bosque. Mas depois penso: se vivesse rodeada disto que pinto, já não poderia pintá-lo. Era adquirido, já não era uma necessidade. Assim, tenho as duas coisas: uma casa na cidade e um jardim no atelier.'
Quando a Inez chegou a Portugal e foi estudar para as Belas-Artes, não falava português. Era difícil acompanhar as aulas e a linguagem que lhe era familiar era a da geometria. 'Sempre gostei muito de matemática. Tive um professor que me dizia que, da sua experiência, as mulheres não tinham tão boas notas. Acho que isso me impulsionou.'
A geometria é aquilo que lhe permite ver que há coisas por trás das coisas, que permite ordenar e perceber diferentes camadas. 'É uma questão de perspectiva, nunca estamos a ver o todo, não é?' Geometria é uma questão de humildade no sentido em que há sempre pelo menos um lado que não vemos.
Quando lhe peço para ver livros de artista, mostra-me este.
A questão é a seguinte: o que é que estas imagens têm em comum?
As coisas estão todas interligadas e a Inez não força essas ligações. Pelo contrário: fá-las aparecer. É uma espécie de efeito borboleta, exceptuando que não se dá num ponto e depois o ponto progride. O que acontece é dar-se a todo o momento entre todas as coisas, como uma rede segura.
É claro para mim que o tempo que a Inez passa naquele atelier tem muita qualidade. Vê-se que é um espaço vivido.
'Por vezes estou aqui um dia inteiro e sei que avanço, apesar de não ter feito nada. É uma questão de espera, tenho que esperar porque as ideias se estão a fazer'.
Ultimamente tem escrito poesia em inglês. 'É uma coisa que me dá, eu nem sequer penso em inglês, penso em português. Mas por alguma razão as coisas tornam-se mais claras para mim quando tenho que as colocar noutra língua.'
Mas ainda sobre a geometria há mais a dizer. Quando começa a desembrulhar uns desenhos, ainda antes de eu os ver, exclama 'que lindo! Isto não é lindo? É lindo, lindo!' e o seu entusiasmo é contagiante. Eu poderia mesmo, depois daquele dia, ter começado a estudar geometria se a Inez fosse minha professora.
'Peixinho grande comeu peixinho pequeno' |
'Às vezes tenho que parar. Saio para a rua, perco o meu centro, sou agredida, por isso tenho que me recolher durante algum tempo para pensar e estar sozinha. Só quando o meu centro está sólido é que posso voltar a dar-me. Eu acho que, quando os outros nos rejeitam, a rejeição é sempre injusta. Os outros nunca sabem quais são as nossas razões, por que nos demos, em que quantidade nos demos e de que modo essa rejeição nos vai afectar. A forma como os outros nos vêem é sempre injusta em relação àquilo que somos. Por isso, prefiro não saber por que me rejeitam. Mas eu só posso acreditar nisto quando estou equilibrada. Caso contrário, terei outros pensamentos a dominar-me'.
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A Inez Wijnhorst está contactável através do seu facebook e do seu site pessoal.
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