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sexta-feira, 10 de junho de 2016

EDUARDA ROSA




A Eduarda Rosa (Caldas da Rainha, 1949) mora mesmo em frente à Gulbenkian. Fui encontrá-la em sua casa a meio da manhã, onde ficámos a conversar no atelier que ocupa o segundo andar do duplex onde vive. 
Descobri o trabalho da Eduarda por mero acaso, num dia em o vi no facebook. Daí até chegarmos à conversa, passaram-se uns meses, mas o seu trabalho não me passou despercebido. 


'Fiz o percurso universitário em Farmácia. As farmácias só podiam ser de farmacêuticos e o meu pai e avô condicionaram-me para seguir esta via. Eu não queria muito, então fui-me refugiando na universidade, segui mais Química'. Entretanto, foi guardando pequenas coisas: recortes, livros com ilustrações bonitas, colecções do que aparentemente não têm valor como colecção. 'Sempre gostei destas coisas'.



'Não é um trabalho, pelo menos por enquanto. São coisas importantes para mim,
demasiado íntimas para expor.'
'Ia guardando as coisas, nunca fazia nada com elas. Gostava muito de pintar, mas esse não era o meu objectivo'. Fala-me sempre num tom muito tímido, baixo, mas nunca deixa de responder ao que quer que pergunte.



No final da carreira como professora universitária, começou finalmente a frequentar aulas de pintura. 'Gostava, mas não era bem aquilo'. Depois reformou-se e seguiu-se-lhe a AR.CO. 'Ao início, as minhas colagens não foram muito bem recebidas. Mas eu tinha uma mais-valia em relação aos outros alunos: não estava ali para viver daquilo, já tinha a minha reforma. Os outros colegas estavam com a força toda do início de carreira, de modo que as coisas que me diziam não me magoavam'. 
Na escola, enquanto os colegas de 20 e tal anos iam sair, para jantares, a Eduarda ficava a trabalhar. 'Já não tinha pedalada para aquilo!'




Foi ajustando o seu trabalho e deu por si a trabalhar em cima dos livros antigos. 'Mas depois vi que havia tanta gente a fazer coisas com livros... Deixei-me disso, passei para os mapas. Deram-me uns mapas daqueles que se penduravam nas escolas antigas, tão bonitos! Como não os queria estragar, trabalhei do avesso, fiz colagens do avesso.' Agora, alguns estão pendurados na parede da sua sala.


'Gosto de coisas arrumadas, gosto de dar uma ordem ao mundo aqui no atelier'. E é verdade que a arrumação é irrepreensível, coincidente com o trabalho. A Eduarda gosta de formas geométricas e se, quando começou, se focava nas simetrias, agora isso já não é primordial. 'Chamaram-me a atenção e eu vi que realmente não havia nenhuma razão para que tudo fosse simétrico, as coisas no mundo não são simétricas, mas têm todas uma forma... eu olho e vejo tudo organizado, não sei explicar. As coisas no mundo estão organizadas e por isso as coisas no meu trabalho estão organizadas'.



'Aqueles cavalinhos eram da minha mãe. Ela ia deitar fora porque tinham
as patas partidas, mas eu guardei-os porque tinham as patas partidas.'

Um dia, expôs no espaço AZ. 'Fiz as minhas coisas, o que tinha a fazer, não estava à espera de nada. A Ana Jotta foi ver a minha exposição e dei por mim a receber um convite para expôr na Culturgest do Porto'. É essa exposição que agora está a preparar e na qual trabalha sobre gravuras de livros antigos. Pinta-lhes formas, organiza-as segundo uma determinada ordem.




'Gosto de fotografias antigas, colecciono-as e vou buscar à feira da Ladra.'

'Também me fascinam as legendas, tanto que fiz um trabalho assim. Recortei legendas aleatórias e colei-as'.
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A Eduarda pode ser contactada através do seu facebook.

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