A Ana Cruz e a Maria de Betânia conheceram-se no curso de Pintura, na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Ambas trabalhavam de uma forma diferente mas, como partilhavam o mesmo espaço, foi inevitável a contaminação de trabalhos.
A partir daí foi um saltinho: participaram em concursos juntas, faziam parcerias ocasionais e, há dois anos, expuseram pela primeira vez em conjunto na galeria Abraço. Foi nessa exposição que nos conhecemos.
Trabalham em cerâmica, mas não fazem bibelots tradicionais. Foi por isso que criaram a hashtag #NovaCerâmicaPortuguesa, que as identifica no Instagram.
Um dos primeiros trabalhos que vi foi este:
A ida ao seu atelier foi complicada: ambas vivem em Lisboa, mas a maior parte das vezes trabalham em separado, cada uma na sua casa, num pequeno espaço improvisado que se resume às respectivas secretárias; e uma vez por mês vão passar um fim-de-semana a Montemor-o-Novo, onde podem usufruir de um grande atelier e materiais à disposição por um preço simbólico.
Foi nas Belas-Artes que conheceram a professora Virgínia Fróis, que as inspirou.
A linguagem da Ana e da Betânia foi-se parecendo e ambas trabalhavam temas relacionados com a condição feminina. Em equipa, o seu trabalho desenvolveu-se a grande velocidade.
O atelier é enorme, com uma mesa de trabalho invejável. Cheira a barro por todo o lado, é fresco e a zona, muito silenciosa. Mas, neste dia, tinham Bossa-Nova como banda sonora.
Os fornos estão recheados de pequenas prateleiras. Alguns trabalhos, seus e de outras pessoas, estão dispostos de forma organizada.
A sua energia de trabalho é contagiante: foram raras as vezes que visitei ateliers e os artistas continuaram a trabalhar. Neste caso, não houve nenhum momento em tivessem parado o que estavam a fazer para responder a perguntas ou para conversar, o que fez com que me sentisse à vontade. A sua dinâmica é muito clara para quem olha: poderiam ser um casal de velhotas que viveram toda a vida juntas e que já sabem de cor as manhas uma da outra. Sabem com que contar.
Ambas são sociáveis e conversadoras. Nunca são aborrecidas e estão dispostas a explicar cada passo do processo de trabalho, cada material, por que fazem o que fazem e quais são os seus planos futuros. Neste caso, trabalhar em grupo é fácil: ouvem-se com vontade e quando uma está mais embaixo, a outra salta para a linha da frente e toma conta do duo.
O ambiente de Montemor também as influencia e isso é assumido por ambas. Utilizaram nalguns trabalhos o barro local, mais difícil de modelar, porque queriam incorporá-lo no que fazem. E não precisam de ir muito longe para encontrarem os cactos que inspiraram algumas das suas peças.
Suponho que o seu pensamento rápido seja estimulado pelo outro trabalho que ambas têm: no Hospital Júlio de Matos com doentes mentais, orientam oficinas de cerâmica. Esse trabalho requer uma atenção técnica permanente, ao mesmo tempo que conversam e dão referências aos alunos.
Noutra ocasião, tive oportunidade de visitar o hospital de dia e de vê-las a trabalhar. A postura é a mesma: sempre abertas, corrigindo aqui e ali, mas sobretudo sem qualquer pretensão.
Também trabalham com crianças - as Oficinas do Convento têm programas que valem a pena (Montemor é só a 1h de autocarro de Lisboa). Isto é uma mais valia para o seu trabalho: trabalhando com outros, desenvolvem o seu próprio trabalho.
Trabalham de forma livre e sem preconceitos - são despojadas. Isto traduz-se nas formas que esculpem, mas também na facilidade de trato.
Vale a pena conhecê-las.
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